" DE TI "
Sonetos, mais de mil na escrita feita,
sequer puderam dar de exatidão
ao sentimento em chamas de paixão
que no meu coração, gentil, se deita!
Quem dera dar-lhe forma em precisão
na rima que me fosse por eleita
e ali, sobre o papel que a tudo aceita,
mostrá-lo sob as régias da emoção,
mas algo falta aqui que impede o verso
de todo o amor, confuso e controverso,
cravando-me a tristeza por sentença...
Suspiro a lucidez, rogo clareza,
mas sei que, o que não tenho é, com certeza
a inspiração que dá-me a tua presença!...
©Paulo Braga Silveira Junior - Setembro/2019
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" TORMENTO "
Passou-me a ser diário, esse tormento,
e angústia em me faltar a precisão
nem ter qualquer medida e exatidão...
Onde andará, não sei, teu pensamento?!...
Terás ao meditar nova paixão
a mando de um profundo sentimento?
Por outro é o teu querer, o teu intento
nas coisas que te ordena o coração?
Será que já esquecestes da ternura,
dos corpus nus buscando noutro a cura,
da intimidade, o amor, do riso expresso...
Diário, esse tormento, essa agonia...
A paz não tenho eu, sequer um dia,
nem creio mais, enfim, no teu regresso!...
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" DEVANEIO "
Vagando esse bordel da minha mente,
covil do que é promíscuo e de pecado,
desejo-te presente do meu lado
na fome que me chega sutilmente!...
O ritmo do amor ali tocado
nas teclas de um piano, um jazz fremente,
se faz apelo n'alma, contundente,
pra que o querer se torne consumado.
Um drink de lascívia me é servido;
te trago a mim num trago entorpecido
e pelas mãos eu te conduzo ao quarto...
Te uso, te lambuzo e te sacio
aproveitando o instante do teu cio
e dele em minha mente, só, me farto!
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" INGRATOS "
Não tive orgulho de aos teus pés depor
o que em minh'alma de secreto havia...
Te dei do afeto meu por moradia
e consagrei-te o meu real amor!...
Foi gesto humano, farto em galhardia,
ante os teus pés sem máscaras me por
ao me entregar completo e sem temor
preso à paixão que no meu ser ardia!...
Por vezes lhes beijei, dei-lhes carinho
no agrado entre nós dois em nosso ninho
pra aliviar-te as dores do cansaço...
Teus pés... De mim levaram-te distante!
Não mais presente o afago, o peito arfante,
os corpos nus no enlace de um abraço!...
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" MAIS NADA "
Pegaste uma camisa ali deixada
e bem no alcance fácil da tua mão
tomando-a de emprestada e, a mesma então,
vestiste não usando além mais nada!...
Me apaixonei por ti nesta visão;
mulher de encantos tantos adornada...
Tu sempre foste a noite enluarada
nos campos férteis do meu coração.
Teus seios sob as fibras do tecido
se expunham me deixando apetecido
e entregue a sedução em ti presente...
Me venhas sempre assim... Sem medo ou pejo;
vestida tão somente de desejo
ou da paixão mais forte e contundente!...
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" TEU SILÊNCIO "
Há no silêncio, oculto, a sua magia...
Mistério a ser no tempo desvendado!
Nos pode ser prazer, descanso dado,
ou horas de sofrer e de agonia!...
Às vezes, na oração, o suplicado
porque palavras faltam na homilia;
silêncio a noite canta e fantasia
marcando o peito de quem acordado.
O amor dele se usa num olhar...
Estrago faz, num trago a sós, no bar...
Protesta um tanto ou dá-nos a anuência...
Se leva-me a sonhar calmo e contrito
também me faz sangrar no peito aflito
todo o silêncio atroz da tua ausência!...
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" MENSAGEIRO "
Chegou-me o som do vento... Um mensageiro
trazendo nos seus címbalos lembrança...
A voz do teu amor ainda me alcança
por mais que seja o instante passageiro!...
Brincando como igual à uma criança
a brisa trouxe a mim seu tom festeiro
lembrando o teu sorriso alvissareiro
tão pleno de alegria e de esperança.
Eu recordei momentos tão felizes
que hoje se tornaram cicatrizes
ouvindo aquela música na aragem...
Foi como se viesses pelo vento
beijar a minha face no momento
deixando essa saudade na passagem!...
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" TEU AMOR "
Não sei se a timidez que te é safada
ou se tua safadeza te intimida,
mas teu mistério é graça concedida
que faz-te ser essa mulher amada!...
Às vezes me parece reprimida,
em outras gata arisca e avançada...
De dia é casta, santa doutrinada,
de noite amante ardente e pervertida.
Assim, chegada a mim nessa mistura
meio a beata ao cio e quenga pura
se entrega corpo e alma ao despudor...
Me xinga, bate, morde, chuta, arranha,
depois me abraça, beija, esfrega, assanha
ao se achegar chamando-me de "amor"!
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" TE PERCAS "
Te peço, não te percas na tristeza
nem galgue os trilhos de um caminho errado
por culpa de outras marcas do passado
que deram mágoas tantas e incerteza.
Não perca o brilho do sorriso dado
que encanta este teu rosto de beleza
nem deixe que se perca a tua nobreza
por conta de um ardil já derrotado.
Não perca o bom humor, não perca a vida,
não perca a paz de outrora bem vivida,
não perca, da paixão em brasa, a chama...
Se for pra se perder seja no abraço,
no beijo, nos prazeres de um enlaço...
Se perca aqui, comigo, em minha cama!
©Paulo Braga Silveira Junior - Setembro/2019
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" CERTEZA "
O céu chorou a tua dor na terra
por testemunha do teu mal sofrido
e o pranto d'alma sobre o chão vertido
foi visto ali onde o sofrer se encerra!
Arcanjos e anjos, num pranto sentido,
mais querubins em prontidão de guerra
sabem do caos que a própria fé emperra
quando se traz o coração partido.
Há luta aqui, mas há combate além
pois que a peleja é deles tais também!...
Segue contrito que a vitória é nossa!
Na mente traga e firme ao coração
que contra Deus e a igreja em oração
por certo, e creio eu, não há quem possa!
©Paulo Braga Silveira Junior - Setembro/2019